segunda-feira, 23 de junho de 2008

Não Sobre o Amor

A cenografia de Daniela Thomas é irretocável. Não tem como não se abalar pelo impacto visual cênico logo no começo. Perdem-se as referências de se estabelecer qualquer ordem estrutural no espaço. O mundo está de ponta-cabeça – do ponto de vista de quem tá perdidamente apaixonado e precisa de um eixo rígido e metódico como válvula de escape para o regimento da métrica poética. Mas Felipe Hirsch e sua Sutil Companhia de Teatro já foram mais saborosos em suas obsessivas dissertações sobre o amor. A quantificação deste nobre sentimento, traduzida em listas em A Vida É Cheia de Som e Fúria, era, do ponto de vista formal, menos rebuscada e, portanto, menos arrogante. A vida transeunte da Avenida Dropsie era muito mais revigorada, embora trouxesse um tema do começo do século passado. Ou talvez justamente por isso. Existe uma sutil diferença entre retratar o homem moderno por meio de fragmentos do discurso amoroso e colecionar um álbum de figurinhas com as principais passagens de uma trajetória de vida. Hirsch já nos brindou com muita maestria seu aspecto metonímico de visão de mundo. Hoje, repete-se em fórmulas enjoativas com suas neuroses em torno do colecionismo volátil.

2 lentilhas

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