terça-feira, 10 de junho de 2008

A Valsa das Solitárias

Muito estranha a programação da Casa das Rosas, no começo da Av. Paulista. O pequeno espaço improvisado para espetáculos (na verdade, um dos ambientes do casarão), somado ao fato de não cobrar ingressos, faz com que normalmente haja lotação bem antes do início da peça. E, como se não bastasse, a divulgação positiva da programação contribui ainda mais para essa concorrida disputa por lugares. Todavia, desde que passou a cobrar ingressos para teatro (R$ 15 inteira), parece que não conseguiram manter a programação no mesmo patamar. AValsa das Solitárias é um bom exemplo de que o exercício dramático não é nada se não houver o mínimo de entendimento do texto e o mergulho na obra. Trata-se de um compêndio de três textículos da derradeira fase de produção do dramaturgo argentino naturalizado chileno Jorge Diaz, morto no ano passado aos 77 anos. A primeira atriz, protagonista do monólogo Um Negócio de Peso, parece que não entendeu nada da voracidade do texto, por sinal bem bom. Sua fala mansa e seu olhar acolhedor em nada corroboram ou destoam de uma construção narrativa ácida e irônica. Tem-se a impressão de que sua vagarosidade lingüística tentam a todo instante fazer a atriz não se esquecer das falas. Já a segunda atriz, do monólogo O Jardim das Delícias, é bem melhor e mais convincente em seu papel. Estes dois trabalhos são um bom recorte do grupo, que escolheu o contraponto por meio das ambigüidades do ser humano. Um é quase o oposto do outro. O primeiro traz frases e períodos desconexos, às vezes com pitadas de trocadilhos, diante de uma situação perfeitamente factível: o complexo de obesidade. Já o segundo trecho apresenta orações gramaticalmente corretíssimas, não fosse o ridículo humor negro do contexto e do sentido dessas frases. Um retrato bem-intencionado das contradições humanas, algo na linha meio Cortazar que dispensa grandes explicações lógicas, coeso com a proposta do teatro do absurdo. E com uma boa intervenção de corte: um saquinho de batatas fritas. Já a terceira fração, Casta Diva, não diz a que veio. Uma atriz decadente, que não consegue se recolocar no mercado de trabalho, diante de uma entrevista com um cruel diretor (esse, por sinal, péssimo. E olha que ele empresta somente sua voz). Um exercício ralo de metalinguagem, que não consegue interagir com os outros fragmentos, ficando este pedaço ainda mais solitário diante dessa equivocada dramaturgia.


Caldo

Um comentário:

Elaine disse...

Amei essa crítica. Assisti a peça no Espaço dos Parlapatões ontem (30/07) e não gostei. O texto é muito bom, mas as atrizes estão despreparadas para fazer os monólogos.