segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Andando pra trás

Tá todo mundo se borrando de medo. Vai por mim. Trabalho há quase 20 anos em Propaganda. Já atendi em duas oportunidades contas de varejo do setor automobilístico. Escalar executivos da empresa anunciante para dar um testemunhal em benefício próprio pode parecer, para o mercado como um todo, uma iniciativa mercadologicamente correta para demonstrar seriedade, segurança e credibilidade. Mas, na linguagem dos bastidores, esta aposta segura nada mais é do que um cagaço empresarial para a ousadia. Nada contra usar os chairmen como garotos-propaganda de suas fábricas. No lançamento do Corsa, o personagem velho ranzinza era na verdade um diretor do alto escalão da General Motors na época. Mas agora, imediatamente após a grande queda da Bolsa, trazer um engravatado para falar das promoções, preços e condições especiais da linha GM em tom sisudo e objetivo é sinal de que alguma coisa não vai bem. Caso contrário, a empresa investiria com mais tranqüilidade numa comunicação mais criativa, alegre, moderna, que falasse diretamente com o público jovem, na mesma língua e na mesma sintonia. Se a montadora quer anunciar da maneira mais clara possível suas ofertas para não correr qualquer tipo de risco, essa seriedade aparente pode significar uma faca de dois gumes. Normalmente, plantões informativos, boletins de última hora e discursos de oradores vestidos socialmente, além de chatésimos, são para trazer notícia ruim. Não quero ser pessimista mas, quando o cargo máximo de uma firma é convocado, isso quer dizer que soou o alarme vermelho do chão de fábrica. Não é o presidente da Chevrolet que vai acalmar o mercado. Não é o presidente da Citroën da América do Sul que vai reverter os investimentos e a confiança no Brasil e no Rio de Janeiro. Se até o segmento automotivo, que até há pouco estava rindo à toa, é o primeiro a recuar em irreverência e tomar atitudes retraídas, o que será então dos setores mais conservadores da economia? Torçamos para que esse u-turn frente ao novo não se reflita em resultados decepcionantes nos principais festivais de Publicidade.

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