sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A dança dançou

Diz a máxima que filme brasileiro não é lançado, é arremessado. Existem alguns casos de estratégia acertada, quando há investimentos em marketing e uma grande distribuidora por trás. De acordo com dados do Filme B, Era Uma Vez, apesar das ressalvas, lidera a bilheteria do cinema nacional de 2008. Mais de meio milhão de pessoas já foram conferir o Romeu e Julieta das favelas cariocas. Um resultado lucrativo, mas ainda inferior ao longa de estréia de Breno Silveira, Dois Filhos de Francisco. E nada comparado ao cinema nacional dos anos 70, à pornochanchada, à época em que um ingresso era equivalente a três dólares. O líder de bilheteria deste ano equipara-se a um blockbuster mediano. Esse afugentamento de público, essa distância que se criou entre a arte e as pessoas daqui não se justifica pela falta de opções cinematográficas. Toda semana, pelo menos um filme brasileiro é colocado em circuito. Pelo menos. Desde os mais abrangentes, como A Casa da Mãe Joana e A Guerra dos Rocha, até trabalhos mais específicos, normalmente apoiados pelo Projeto Folha Documenta do Cine Bombril, como Brigada Pára-Quedista ou Musicagen. Isso sem contar os “filmes para os amigos”, como é o caso de Cana Quente, dirigido pelo ex-gerente do Cinesesc, Luiz Alberto Zakir, que ainda não teve sua bilheteria contabilizada. Ou sucessos-relâmpago, filmes que abordam um tema específico, em geral voltado à religião ou às crenças, como é o caso da bomba-relógio Bezerra de Menezes. Os filmes ou documentários minúsculos normalmente ocupam a lanterninha do ranking. Em alguns casos, não chegam a 100 espectadores durante o ano. Mas não são filmes feitos pra encher salas. Desde a sua concepção, nota-se que são trabalhos desenvolvidos ou para fins acadêmicos, ou dirigidos prioritariamente a cinéfilos, estudantes de Cinema ou iniciados. E como a cinefilia já encontrou seu reduto, o lançamento no perímetro da Av. Paulista é decorrência natural desse processo. Mas o que me intrigou, nesta sexta-feira 3 de outubro, foi me deparar com um ilustre desconhecido, Dança da Vida, um obscuro documentário sobre a Terceira Idade. Esta pérola invisível ocupa, por enquanto, dois horários de uma sala do cinema do Shopping Penha e do Boavista. Por mais tímido que seja o lançamento nacional, é comum os jornalistas e a crítica receberem previamente um release da assessoria de imprensa. Neste caso, essa propagação informativa passou batido. Não faço a mínima idéia do que se trata o filme. Posso afirmar com segurança que não houve qualquer tipo de divulgação prévia, o que reforça a minha teoria de que alguns filmes são disparados como biribinhas em direção ao chão. Pode até parecer descaso e falta de respeito: com o público, com o crítico, com o programador cultural. Mas acho que, no fundo, isso é apenas o reflexo de uma pobreza tão grande de dinheiro, de visão de negócios, de noção cinéfila, que qualquer tipo de reclamação soa como chutar cachorro morto. Quanto mais filmes nacionais são despejados nas salas, menos o público torna-se cativo a eles. A dança da vida já nasceu morta, e agoniza na periferia à espera de seu enterro na vala comum da mediocridade. Depois, não adianta reclamar que o Macaco Tião da Sétima Arte ocupa a posição de rebaixamento no ranking.

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