Ontem vi uma moça com uma camiseta onde estava escrito: “Make
Brazil emo again”. Na hora, achei meio ridículo. Aquilo me soou tão patético e
tão datado quanto os neo-ripongas e suas batas indianas, ou mesmo quem desfila
de coturnos gastos e cabelo moicano tentando imitar o visual dos Sex Pistols. Não
é possível, no fim da segunda década do Século 21, venerar um estilo de vida
que se ornava de cabelos escorridos pra frente, olhos pintados de preto e uma
lagriminha de Hena tatuada perto da bochecha. Nada contra o gênero musical,
muito pelo contrário. Ainda hoje, adoro ouvir as bandas que abraçam o emotional hardcore, de onde se abreviou
para emocore, até virar essa corruptela, emo.
Ou “punk melódico”, como ficou conhecido no mundinho artístico. Aprecio Taking
Back Sunday, Rise Agaisnt ou até mesmo os primeiros – e mais viscerais –
trabalhos do 30 Seconds to Mars. Gosto mais ainda dos precursores dessa onda,
os protozoários chamados Jimmy Eat World, Saves the Day, Get Up Kids, Mineral,
Braid, e por aí vai. E respeito as bandas nacionais, como CPM 22 e NX Zero, que
ao menos englobam músicos competentes. O que me incomoda mesmo é o esterótipo
do gênero, é a ideologia transformada em produto de consumo, é a estética
reduzida ao nada, é o ideal de rebeldia juvenil que vira motivo de deboche. Tão
piegas e caricato quanto aquela indumentária gótica, encostada no guarda-roupas
cheirando a naftalina, que só serve pra ser usada em festa à fantasia.
Mas aí eu fiquei olhando aquela camiseta preta, cobrindo a
branquela hipster que provavelmente tinha acabado de sair de alguma mobilização
na Paulista, e pensei melhor. Faz todo sentido o Brasil voltar a ser emo. De
uns tempos pra cá, vivemos uma truculência tão grande, que nada mais
apaziguador do que a emoção pra trazer de volta aquilo que antecipadamente
enterramos. Passamos a adotar o discurso hater, excluímos família e amigos dos
nossos convívios, transformamos nossas páginas nas redes sociais em outdoors
exibidores do ódio e da intolerância. E temos como exemplo, aquele paradigma que
vem lá de cima, a bestialidade miliciana, o modus operandi brucutu, o
comportamento vil e rasteiro, a apologia às arminhas. O giganrte acordou, de
fato. Mas, dessa vez, o gigante é do mal. Despertamos o que há de pior em nós. Hoje
somos bestas-feras prontas para devorar o outro.
Ontem fui ver Yesterday. O filme. Calma, não vou dar
spoiler. Mas aí lembrei que eu tenho uma camiseta com os dizeres “all you need
is love”. Talvez a gente precise de um pouco disso mesmo. Esse tipo de
retrocesso. O paz-e-amor que brotou em Liverpool. Não esse retrocesso da
ditadura, da terra plana, da volta do sarampo. A gente precisa voltar um pouco
atrás e lembrar que um dia, talvez um único dia, fomos felizes.
E hoje faz 80 anos que começou a Segunda Guerra. E tem gente
aí, microrganismos toscos desse tal gigante de Brasília, que foi comemorar essa
data nefasta. Portanto, vamos voltar a ser emo. Vamos regurgitar menos e amar
mais. Vamos resgatar o nosso lado cafona. E por falar em cafona: gratidão.
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