Que a sociedade anda cada vez mais polarizada, todo mundo
sabe. Petralhas X bolsominions. Flamengo X Fluminense. Biscoito X bolacha.
O que me estranha é que eu, mesmo com minhas críticas
ferrenhas a essa categorização maniqueísta, percebi que andei polarizando um
certo nicho dos meus vínculos sociais. Mais especificamente, minhas
ex-namoradas.
Sei claramente que é muito difícil rotular e encaixotar em
pastas de arquivos pessoas de comportamentos, visões de mundo e texturas de
pele tão diferentes entre si. Conheci essas pessoas em momentos distintos da
minha vida. Cada uma com seu modo idiossincrático e único de se expressar.
Foram relacionamentos (namoros, casos, ficações, efêmeros ou longevos, não
importa) com suas nuances, suas particularidades, seus 50 tons de cinza.
Mas, fazendo uma retrospectiva dessa diminuta lista de ex, a
constatação da polaridade chega a me assustar. Existem aquelas com quem mantenho
uma saudável relação de amizade até hoje. Claro, o namoro com nem todas elas
acabou de maneira tão pacífica. Mas, depois que a poeira baixou, ou talvez por
uma sensação póstuma de arrependimento ou de culpa, de ambas as partes, houve a
reconciliação. Por outro lado, existe o grupo nem tão amistoso assim. Nesse
arquivo encontram-se as ex que terminantemente me deletaram de suas vidas, como
se a separação fosse litigiosa e a convivência posterior pudesse eventualmente ser
maléfica. Por mais que eu não queira, acabo tendo que dividir meus antigos
amores entre atuais amigas e inimigas. É como se, na hipótese de eu realizar
uma festa, teria de dividir a lista entre aqueles que com certeza eu convidaria
e as que definitivamente não convidaria.
A gente luta por uma sociedade mais plural, mais diversa,
mais ampla e mais profunda. No entanto, a gente não consegue sair desse campo
magnético polarizado nem mesmo nos nossos pequenos meios sociais. Doido isso,
não?
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