A história de hoje se passou há mais ou menos 10 anos, quando
trabalhei no departamento de Comunicação de uma distribuidora de médio porte de
filmes. Uma empresa familiar, cuja dona era folclórica no mercado
cinematográfico brasileiro. Fiquei pouco tempo ali. Mais ou menos 3 meses, o
equivalente ao período de experiência. Quando eu já tinha um bom tempo de casa,
pelo menos pra todo mundo dali saber quem eu era e o que eu fazia, a tal
proprietária me perguntou:
- Qual o seu nome, mocinho?
- Começa com E.
Ela, um pouquinho mais irritada, respondeu:
- Fala logo, mocinho!
Corria à boca pequena que de vez em quando ela costumava
maltratar alguns funcionários. Comigo nunca houve nada nesse sentido. Mas isso
não quer dizer que a gente tinha algum tipo de intimidade. Analisando hoje, eu
sinceramente não sei onde estava com a cabeça para achar que uma senhora de
quase 80 anos, presidente de um renomado selo de distribuição de filmes, ira
naquele momento querer brincar de jogo de adivinhação. É a mesma coisa que
beliscar o braço do Kim Jong-um e falar “3 marcas de cigarro”. É como falar pro
Bolsonaro “sebrãbisdoila” e, na hora em que ele perguntar “o quê?”, você aponta
o polegar pra baixo e faz um som com a língua “prrrrr”. Se bem que no caso do
Bolsonaro é até capaz de ele rir e gostar da brincadeira.
No fundo, eu queria achar que se tratava de um esquecimento
temporário. Não passava pela minha ingênua cabeça de que ela nem fazia ideia de
quem eu era. Que a minha importância para o sucesso da empresa era o
equivalente ao bebedouro. Que eu era facilmente confundido com um cartaz de
filme de terror.
Claro que esse fato ficou notório no nosso departamento.
Risadinha aqui, risadinha ali, cada vez que alguém se lembrava do episódio. Até
que o assunto morreu. Dias depois, falei para um comparsa da equipe:
- Já salvei na rede o texto do filme.
- Qual filme?
- Começa com E.

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