sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Pegando pesado

Em relação a alguns assuntos e comportamentos, sou ainda um pouco ortodoxo, meio xiita. É por isso que eu condeno o novo comercial da cerveja Nova Schin. Nada contra o filme propriamente dito. Mas a mensagem transmitida não me desce redondo. Lá, existe uma tolerância dada a um espectador distraído que deixa o celular ligado na sala de cinema. Nem quero entrar no mérito dos motivos de tal desatenção, mas o afrouxamento implícito em relação ao respeito ao próximo é que me incomoda. Quando se fala em comunicação de massa, o tratamento e o efeito dado ao particular se alastra por metonímia ao conjunto. Ou seja, ali o subtexto diz que todo e qualquer espectador tem o direito de deixar o celular ligado. Afinal o freguês, aquele consumidor que se sente o dono do mundo, é quem sempre tem razão. Sou ainda do tempo das diligências. Neste exemplo específico, muito reticente quanto ao moderno, ao produto que se autodenomina "novo". Se para a companhia cervejeira de Itu pegar leve significa permitir sonoridade alheia no ambiente silencioso, conversar durante a sessão, chutar a cadeira da frente, passar o sinal vermelho e suavizar os pontos da escala etílica no exame do bafômetro, fico então do lado do bigodudo do faroeste. Antigo, poeirento, mal-humorado, mas que pelo menos tenta resgatar o desusado hábito do exercício da cidadania.

Um comentário:

Cid Nader disse...

Putz Érico. Super concordo contigo. Achei que ia passar batido e, confesso, não tive vontade de falar no assunto. Mas concordo totalmente. Acho que a propaganda é um bom exemplo do modo ser "cordeirístico" que anda contaminando grande parte dessa nossa sociedade - que em uníssono se posta ante a casa dos pais (prováveis) assassinos da menininha clamando vingança, ou que chora quando a TV faz de alguém "famoso" (essa nossa fama superficial, uau) o mártir da hora, ou que se desloca para eleger o carnaval o hits de um momento, enquanto num outro, escolhe fazer boas ações com o coração lavado quando o Natal se aproxima. Queira ou não são coisas que se interligam - de um modo ou de outro. Abraço.

Cid Nader