- Alô, Flávia? É o Leandro, da Futuro Brasil Marketing de
Conteúdo. Pode falar?
- Sim, sou eu. Pois não?
- Então, quem me indicou foi o Braz, grande brother meu.
Parece que vocês trabalharam juntos na A2 Work. Seguinte, tô precisando de
redator pra pegar um freela. Cê ta disponível?
- Sim, sim... dependendo das condições...
- A parada é bem maneira. A gente vai aproveitar esse
momento coronavírus, essa parada toda, pra fazer uns informativos, conteúdo com
dicas de prevenção, pílulas nas redes sociais. Topa?
- Então, vai depender da verba e do prazo.
- Prazo a gente negocia. É urgente, mas eu dou um jeito de
segurar as pontas. Você NÃO precisa vir pra agência. É trabalho remoto, home Office
mesmo.
- Sim, até porque, né? Quarentena. Ordem do governador.
- Beleza. Então, a gente ainda precisa ajustas uns lances,
mas daria pra você adiantar um orçamento? São mais ou menos 20 peças. Coisa
rápida, texto curtinho.
- Olha, se for coisa básica, que não precisa de muita
pesquisa, meu valor é de 2 mil reais. Menos não posso fazer.
- Sei... OK... bom, vou falar com o pessoal aqui, qualquer
coisa te retorno, OK?
(15 minutos depois...)
- Flávia? É o Leandro. Então, falei aqui com o diretor de
criação, que falou com o gestor da área, que falou com o Financeiro, e a gente ta
com um problema de verba, então teria que ser um pouco menos...
- Menos quanto?
- Me passaram 500 reais. Mas eu acho que consigo 600. É coisa
boba, o Braz me falou que você tira de letra. Gente boníssima esse Braz.
- Bom, sei lá...
- Você não vai se arrepender. E esse é o primeiro job. Tem
muita coisa pintando aqui na casa, se rolar você pega outros, aí a gente
consegue negociar um valor maior. Esquema de parceria mesmo.
- OK. Vou confiar em você.
- Ótimo! Cê vai curtir. O cliente é legal, tem um trabalho
bem maneiro na rua. É um lance meio educativo, dando um toque pras pessoas não
saírem de casa, lavarem as mãos direitinho, essa parada toda. Pode atacar pelo lado
emocional, fique à vontade. Um lance que pega na veia, sabe? Vou te passar por
e-mail o briefing com tudo direitoinho. Se você puder me mandar amanhã, pelo
menos a primeira parte pra gente começar a dar uma olhada antes de ir pra
layout...
(No dia seguinte...)
- Alô, Flávia? Graaande Flávia. É o Leandro. Então recebemos
seu e-mail. Show! Sensacional! O pessoal aqui AMOU seu texto. Única coisa: esse
lance aqui. A palavra coronavírus. Eles querem que tira. Essa coisa de falar de
doença, pode ficar meio triste, meio pesado, pra baixo...
- Ué, mas o job NÃO É sobre coronavírus?
- Sim, mas eles preferem ir prum caminho mais sutil. Teria
como você tentar uma segunda opção?
(2 horas depois...)
- Flávia? Leandro. Então, o pessoal curtiu essa nova
proposta. Só tem uma coisa: quando você fala “fica em casa”. Acharam meio
impositivo, autoritário.
- Cara... é o que você falou ONTEM por telefone. É o que tá no
briefing!
- Esquece ontem, esquece briefing. A diretoria entrou na
parada desse job e eles estão fazendo um novo direcionamento. Imagina só o cara
lendo isso e alguém mandando ele ficar em casa. Fere com a liberdade de
escolha. Com o direito de ir e vir. E não é toda cidade que vai ficar em
quarentena. Essa campanha é nível nacional. Quebra essa, vai...
(1 hora depois...)
- Flávia? Leandro de novo kkkk. Então, acho que estamos no
caminho. Mais uma coisa: quando você fala em álcool gel. A agência aqui não
pega conta de bebidas alcoólicas. Um dos sócios é evangélico, o outro é
muçulmano, então já viu... a gente não pode EM HIPÓTESE ALGUMA mencionar
álcool, cerveja ou qualquer outra bebida no nosso material de comunicação. Tenta
achar um sinônimo.
- Difícil, viu...
- É, eu sei que é difícil. Essa época de isolamento não ta fácil
pra ninguém. Mas vai passar. E depois que passar esse corre a gente quem sabe
podia marcar de bater um papo, ir prum barzinho, trocar uma idéia...
- Isso é uma cantada?
- Não, de jeito nenhum. Para com isso! Mais pra gente se
conhecer, pra eu ver um pouco do seu material, seu portifa, por onde você já
trabalhou, se manja de redes sociais... puro networking, nada mais!
(15 dias depois...)
- Alô, Leandro? É a Flávia redatora. Então, queria saber
sobre o pagamento daquele freela.
- Graaande Flávia! Não morre mais, ia te ligar AGORA! Então,
passei sua nota pro Financeiro, mas eles falaram que não podem aceitar do jeito
que tá. Eles são meio chatinhos mesmo. Quando você fala “serviços prestados”,
precisa especificar o tipo de trabalho, a quantidade de peças criadas, a
quantidade de laudas, o nome do cliente e o nome do projeto. Senão eles não
aceitam. Teria como fazer uma carta de correção e me mandar? Aí eu encaminho
IMEDIATAMENTE pra eles.
(1 mês depois...)
- Alô, Leandro? Flávia. E aí?
- Flavinha, Flavinha... tudo bem contigo? Comigo,
maravilhosamente bem. Melhor agora. Mas me diga: e aí o quê?
- O PAGAMENTO!
- Ah, sim... veja bem... encaminhei sua nota pro Vinícius...
grande Vinicão... que deu uma olhada, aprovou e pá... aí ele enviou pro chefe
dele, o Robson, que é o pica do Financeiro... agora tá na mão dele...
(2 meses depois...)
- Leandro? Flávia...
- “No momento todos os ramais estão ocupados. Por favor,
aguarde um de nossos atendentes...” kkkk te peguei! Flavinha coração, diga
lá...
- Coração o cacete! Quero saber da minha grana.
- Cê num vai acreditar. Eles decidiram que NÃO Vão te pagar.
O job foi CANCELADO! Kkkk A gente foi mandando as versões, os caminhos
criativos, era um tal de aprova-reprova, daí a pandemia passou! E o cliente
decidiu cancelar a porra toda. Brasileiro não é sério mesmo... mas vem cá: tô
aqui com um job de influenza. Te interessa?
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