terça-feira, 7 de setembro de 2021

De Volta para Casa

O veterano diretor sino-americano Wayne Wang traz um retrato mais intimista sobre a finitude, sem apelar para os exageros dramáticos que o tema poderia impor. Na primeira cena o corte de uma carne de porco, lento e cuidadoso, serve de analogia para o minucioso cuidado que o protagonista Chang-rae deve ter com sua mãe, que sofre de câncer. Ele é um escritor que abandona o emprego e volta para a casa de sua progenitora em São Francisco, somente para dar atenção a ela nesses momentos finais de vida.

Conciso nas emoções e econômico nos trejeitos, o filme vai crescendo sem a necessidade de apelos como músicas de fundo ou câmeras lentas. Tudo se encaixa na própria expressão cênica dos atores. Entre uma certa indiferença e a tensão máxima, é nesse viés que enxergamos a força do filme. Alguns flashbacks incorporam um relato mais saudosista da mãe gozando de boa saúde, principalmente no preparo culinário. Isso não quer dizer que De Volta para Casa evita situações conflituosas. Esses dilemas surgem de forma mais orgânica, natural, num crescendo, como se estivessem em tempo real, totalmente descolados da construção cronológica vai-e-vem do filme. É um trabalho que exibe seu capricho sem soar adocicado demais. E também mostra seu amargo sem soar indigesto.


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