quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Amazon

Odeio marketplace. Começo assim esta pequena dissertação para encantar ou afugentar meus leitores. Quem está comigo nessa jornada ou quer simplesmente entender melhor os fatores, siga em frente. Quem acha o novo modelo de compras um universo lindo e maravilhoso, pode parar por aqui e pular para a próxima postagem.

Levar produtinhos pra casa de modo on-line, utilizando as ferramentas de e-commerce disponíveis, nunca foi um dos meus grandes prazeres. Só que, desde que os grandes conglomerados virtuais passaram a adotar tal modalidade, tudo (ou quase tudo) ficou ainda um pouco pior. Tá certo que, de um lado, esse megapólio se esforçou pra trazer um tiquinho a mais de segurança. Durante a viagem da sua mesinha de escritório, do seu par de tênis importado ou de suas cápsulas de emagrecimento com fórmula exclusiva, você fica sabendo todo o trajeto por tudo quanto é meio: SMS, e-mail, notificações push no aplicativo, e por aí vai. Se o entregador ficou parado no semáforo fechado ou parou pra abastecer o tanque, lá vem mensagem pra você. 

Só que, na balança, o contrapeso dos dissabores é maior. Não existe mais o famigerado "estoque". O cartel que domina o mercado simplesmente criou uma rede de parceiros fornecedores. Tudo é terceirizado: do fabricante ao serviço de entrega. Essas empresas cuidam apenas da logística de distribuição. Repare que, ao fazer uma busca num desses portais, o mesmo produto pode aparecer anunciado em duplicidade. E com preços diferentes. Se você fizer a mesma pesquisa em outro portal comparativo, como Submarino ou Buscapé, vai encontrar esses mesmos anúncios. Tudo não passa de um copia-e-cola. Essas empresas são, em última análise, nada mais do que agentes intermediários. Cambistas da Geração Z. Não produzem nada. Não guardam nada. E mal sabem o que estão vendendo. Mas onde elas ganham, se não é no lucro com a venda do produto? Criando um sistema próprio de distribuição, com custos de frete determinados por elas mesmas. Se você acha que elas entraram no mercado para cobrir as lacunas das falidas Mesbla ou Mappin, engana-se. Elas estão aí para ocupar o nicho deixado pelos Correios ou pela FedEx, por exemplo, que vêm acumulando prejuízos operacionais nos últimos tempos.

E o resultado disso? Bom, você sabe. Compra um produto que não sabe se existe, confia na descrição das características sobre as quais ninguém tem certeza, e ainda faz reza brava pra chegar direitinho em sua casa nos prazos e condições prometidos. Tudo na base do achismo.

Como vocês já devem imaginar, não nasci com o ânus virado para o satélite natural da Terra. Já tive alguns probleminhas com o comércio eletrônico. Assim como vocês provavelmente também. Na proporção compras efetuadas x satisfação garantida, a equação foi desastrosa. Tive que reclamar, e brigar, e chamar o Papa em diversas ocasiões. Só pra citar alguns casos: Editora Perspectiva, Americanas, Livraria Cultura e, recentemente, Amazon.

Vou trazer um pouco mais de detalhes sobre a última experiência. A norte-americana com nome de floresta brasileira. Após fazer uma pequena pesquisa, inclusive em lojas físicas, vi que a Amazon oferecia o melhor preço. Eu, particularmente, sempre preferi as lojas de verdade. Você entra, escolhe o que quer, toca na mercadoria, sente seu cheiro, sente seu peso, sente seu gosto. Se informa sobre o que precisa saber. Se tiver dúvidas, chama um vendedor de carne e osso ao invés de entrar num chat e conversar com um bot que não entende nada do que você escreve. Abre a carteira, paga com dinheiro vivo ou cartão, escolhe se é débito ou crédito e sai da loja com uma sacola e duas coisas dentro dela: o produto e a certeza de que a compra foi um sucesso. Já na compra on-line, não. Você acessa a loja virtual, escolhe o que quer, confia nas informações, paga somente com a opção crédito, deixa lá no site registrados todos os dados do seu cartão, tornando isso um ponto vulnerável para eventuais hackers, recebe um e-mail, valida as informações do e-mail como um verificador de segurança, continua o processo, aguarda o recebimento de outro e-mail avisando que sua compra foi aprovada, paga o olho da cara pelo frete, acompanha o trajeto por um código de rastreamento e, mesmo já tendo pago, chama todas as divindades nórdicas para que sua compra chegue no prazo prometido (de 2 dias a uma eternidade, de acordo com disponibilidade do produto) e que você não esteja no banho durante os 5 segundos que o entregador te espera pra atender a campainha que ele tocou.

A compra em questão se tratava do lançamento do livro do indigenista Ailton Krenak, Futuro Ancestral. Era pra ser um presente de aniversário da minha mãe. Infelizmente, o livro não chegou em casa no tempo hábil. O aniversário dela passou, e nada de presente. No site, o aviso de um novo prazo de envio, sem mais especificações. No dia do aniversário dela, recebo um e-mail da Amazon pedindo minha avaliação sobre a experiência de compra. Tipo uma pesquisa de satisfação. Pra falar a verdade, nunca acreditei muito nisso não. "De 0 a 10, qual a sua probabilidade de recomendar...". às vezes até participo, na esperança de poder botar a boca no trombone ou, quem sabe, ganhar um vale-compras. Mas, de um modo geral, sou muito cético em relação a isso. Duvido que o Mc Donald's vá mudar a formulação do seu Big Mac ao ouvir de mim que não gosto de picles. Em todo caso, respondi a pesquisa e fiz uma avaliação insatisfatória, visto que não recebi aquilo que já paguei,.

Coincidência ou não, a encomenda chegou em casa no dia seguinte. E, um dia depois, recebo no meu WhatsApp uma mensagem da LT2 Transportadora pedindo breves desculpas pelo ocorrido e solicitando que eu "apague" minha avaliação negativa ou faça uma nova. Em troca, ofereceriam como cortesia um voucher de desconto na próxima compra ou um box do George Orwell. Num primeiro momento, pensei em recusar. Não sou corruptível. Acho muito importante que os demais consumidores fiquem a par da qualidade dos serviços prestados por esse truste e seus parceiros. Seria essa a forma educada de me calarem a boca? Estariam comprando meu silêncio? Ou será que esse canal de comunicação funciona de verdade, a tal ponto da empresa terceirizada ficar com o rabeto na mão sob o risco de ter seu contrato rompido com a Amazon?

Outra possibilidade de se enxergar a situação seria o reconhecimento de uma falha, seguido de uma recompensa por perdas e danos. Afinal, eles admitiram o erro. Pior seria simplesmente ignorar meu descontentamento. E, como tudo na vida tem seu preço, optei por ser agraciado com um mimo pelo aborrecimento ao invés de sair de mãos vazias. Continuo odiando o marketplace. Mas o box é lindo. Um pack com os livros 1984 + A Revolução dos Bichos + cards temáticos. Agradeço a gentileza.


Nenhum comentário: