Muito se tem comentado sobre o padrão de qualidade de filmes e séries produzidos ou lançados pelas principais plataformas de streaming no país. Enquanto um carro-chefe alavanca o interesse maior do público, juntamente são lançados diversos trabalhos pífios, sem qualquer relevância artística, deixando claro que Amazon, Netflix, HBO e quetais são nada mais do que fábricas de produtos em larga escala industrial.
Abraço de Mãe, dirigido pelo argentino Cristian Ponce, é mais um exemplo desse descaso com o cinema e desserviço à arte. Tem em seu elenco Marjorie Estiano no papel principal, além de outros nomes do segundo escalão. Divulgado como um filme de terror, as características do gênero começam a aparecer lá pela metade.
Nem vou entrar no mérito sobre reconstituição de época e verossimilhança. O cinema, como forma de expressão artística, permite aos realizadores uma certa liberdade poética. A história se passa no Rio de Janeiro, em 1973. Mas pouco se observam os pormenores atrelados a esse período histórico. Marjorie, no papel de Ana, trabalha no Corpo de Bombeiros e, num caso de incêndio, fica travada e não consegue salvar mãe e filha. Afasta-se por um tempo da corporação, para tratamento psiquiátrico e, quando volta, é convocada a retirar os moradores de uma casa caindo aos pedaços, com risco de desabamento, num dia de chuva torrencial. Nada, absolutamente nada, traz qualquer verdade que nos faça acreditar que aqueles personagens são de fato bombeiros. Num momento hilário, Ana pede para alguém da casa trazer uma corda (!) para salvar um dos bombeiros que caiu numa fossa. Mas isso é apenas um detalhe. O menor dos males.
Com vários furos de roteiro, sequências mal costuradas, Abraço de Mãe tenta induzir diversos elementos que estão ali presentes somente por estar. São meio que jogados à tela. Ponce parece não entender a diferença entre o clima tenso que se cria com as incógnitas narrativas e o calhamaço de artigos despejados sem qualquer sentido, numa falsa alusão ao "mistério". Os personagens, completamente fora do tom, parece que foram convidados a um baile. Num momento de tormenta, uma tal enfermeira (acho que é isso) anda e fala calmamente, como se estivesse ali recitando uma cantiga de ninar.
Se a proposta era trazer dúvidas mal esclarecidas, o filme acertou em cheio. Nem mesmo o título se explica direito. Abraço de Mãe se vende como um dilúvio, mas nada mais é do que uma abordagem risível em tempo feio.

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