quarta-feira, 26 de março de 2008

Mundo Nikkei

Em comemoração ao centenário da imigração japonesa ao Brasil, tornaram-se comuns eventos e acontecimentos voltados à cultura milenar japonesa, principalmente no que se refere às artes e a gastronomia. Difundir a riqueza deste conjunto peninsular oriental é um dever cívico, quase uma obrigação. O grupo teatral masculino Condors trouxe sua irreverência com uma mistura de dança, teatro antigo, humor e rock pesado. Na cidade que abriga a maior colônia nipônica, pipocam amostras deste país ao mesmo tempo moderno e tradicional. Até mesmo no cinema o espectador já está acostumado a embarcar em filmes perturbados sobre os limites da questão humana. Não é o caso de Mundo Nikkei – Os Brasileiros do Outro Lado do Mundo, um documentário que entrou em cartaz no Bombrilzinho apenas para cumprir tabela deste dever cívico patriótico. Patrocinado pelo Banco Real, este didático filmezinho chapa-branca narra, de um modo tão modorrento quanto as aulas de História do primário de escola estadual, as chatices geográficas do Japão e como os imigrantes vivem, tanto lá quanto aqui. A narração parece leitura pura de livro escolar. Como se não bastasse, o filme rende-se ao poder financeiro ao dar voz a alguns diretores do banco financiador da empreitada, dizendo sempre aquele blá-blá-blá da importância japonesa ao desenvolvimento do país. A diretora aparece – e muito – no filme, dando uma de guia turístico quando mostra alguns monumentos e patrimônios históricos do lado do nascer do sol. Tudo é muito duro, quadradíssimo. A estrutura rígida travada, a falta de questões e reflexões mais abrangentes que fogem do óbvio trazem a pergunta: pra que este filme? Tudo muito ingênuo, tudo muito poliano, sem a intenção de machucar ninguém. Mas aqui, na vesguice analítica que rege a página, a ingenuidade é imperdoável.

Caldo (ou melhor, missô)

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