terça-feira, 18 de março de 2008

Ponto de Vista

Este filme parece falar de atentados, da era-Bush, mas no fundo é um tratado à resistência. Numa leitura rasteira, parece querer trabalhar onde cada cidadão estava no momento do tiroteio e da explosão. Mas na minha interpretação vesga, permito-me a digressão de entender quais cidadãos estavam no instante do ataque. O diretor resgata um elenco cinquentão, secundário, preterido pelos grandes estúdios e coloca eles num patamar imbatível, indestrutível, incorruptível. Sigourney Weaver é a voz midiática, o Golbery, o comando das imagens que não aparece nas grandes imagens. William Hurt é a pseudo-liderança, o poder que perdeu o poder. O chapadão Dennis Quaid é a luta, a defesa, a tentativa fracassada de retorno para garantir a segurança de um país sem segurança. Forrest Whitaker é o povão, a ingenuidade desabonada que quer ter a sensação de posse por meio das imagens. Cada fotograma capturado vale um níquel para o corno-manso tentar se reaproximar de sua ex-esposa. Fechado neste pequeno quadro, o filme é a síntese de um país que já não sabe mais o que domina e o que quer dominar. O problema é que Ponto de Vista abre suas lentes para bobagens interpretativas, certamente impostas pelos produtores executivos. O segurança particular do prefeito da cidade, a menininha com sorvete, tudo isso é encheção de linguiça que tenta dar um ponto sem nó. Tá certo que a precisão das primeiras cenas é impressionante. Tudo parece ter sido dirigido e montado com um metrônomo. Não há margem para qualquer tipo de furo nesse relógio suíço. O problema é tentar amarrar um tique-taque a outro, e aí a beleza e a criatividade do esquadro perde pontos.

2,5 lentilhas

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