Ser resistência é boicotar uma rede de supermercados não por
acreditar que ela seja favorável à morte de animais, mas por tomar uma atitude que
afete o bolso dos proprietários no sentido de se exigir medidas mais enérgicas
e efetivas no combate a esse tipo de delito.
Ser resistência é protestar, ao vivo e nas redes sociais,
contra tal abuso criminoso, a tal ponto de deixar o agressor, supostamente
contratado para zelar por nossa segurança, com o “cu na mão” ao ver a repercussão
do caso, até então tratado como uma normalidade corriqueira longe dos
holofotes.
Ser resistência é ligar para a prefeitura denunciando o mau
serviço da linha de ônibus que você pega todo dia, enquanto os outros
passageiros dizem que isso não vai dar em nada.
Ser resistência é exigir o troco correto na padaria, mesmo
tendo de ouvir da pessoa atrás da fila que 10 centavos não vão te deixar mais
rico. E, por uma questão de coerência, ser resistência é também devolver o troco
que lhe foi dado a mais.
Ser resistência é fazer um escarcéu no banco, de forma
totalmente gratuita, chamando a atenção dos demais clientes em relação à
demora, à burocracia e ao pornográfico valor das taxas cobradas, enquanto a tal
instituição financeira gasta milhões na mídia pra te convencer que o banco foi
feito pra você.
Ser resistência é andar de bicicleta pra manter uma vida
mais saudável e não alimentar a máfia dos estacionamentos e dos flanelinhas.
Ser resistência é gastar mais com cultura e menos com
pipoca. É optar pela arte alternativa num mercado que deu carta branca pras
distribuidoras exibirem seus blockbusters em quantas salas quiserem.
Ser resistência é optar por ver filmes e peças teatrais
remontados dos textos dos anos 70, que caíram no ostracismo durante a abertura
política e voltaram a ser atualíssimos em plena adolescência do Século 21.
Ser resistência é quebrar o barraco nos supermercados que
não matam cachorro, mas cobram valores por suas mercadorias diferentes dos
anunciados nas gôndolas e nos encartes.
Ser resistência é brigar, lutar, esbravejar. Não
necessariamente com uma arma.
Ser resistência é mostrar ao mundo que você nasceu pra
incomodar.
Ser resistência é fazer piada política em vez de
humor-bullying. É ser provocativo e estimular a reflexão entre uma gargalhada e
outra.
Ser resistência é cutucar feridas em vez de cutucar no
Facebook.
Ser resistência é não ter medo do risco de perder amigos por
causa dos valores que você apregoa e nos quais você acredita.
Ser resistência é tentar empurrar pra frente uma engrenagem
que está se mexendo pra trás.
Ser resistência é muito mais do que ornar a foto do seu
perfil com uma coroa de palavras bonitas. É tentar encontrar algum sentido
nessa sociedade que não faz sentido algum.
Desculpe a sinceridade, mas 2019 não vai ser um ano nada
brilhante. Por isso, resistir é mais do que necessário. Vou continuar fazendo
aquilo que sempre soube fazer. Serei polêmico, serei controverso, serei amargo,
serei retórico, serei eu mesmo. Não espere menos de mim.
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