RÉVEILLON COM HADDAD
Festa fechada em seu apartamento, somente para os familiares
e amigos mais próximos.
Clima intimista, luz baixa e incenso.
O ex-prefeito usa uma camisa branca e recebe os convidados
na porta.
Festa americana: cada um traz seu prato de aperitivos.
Vai até a janela e acena para os bikers que gritam seu nome
na rua.
Cumprimenta, uma por uma, as amigas de sua esposa que vão
chegando. Maior concentração de mulheres por m2 do bairro.
Comunica a todos que está se tornando vegano.
Ouve de uma das amigas de sua esposa um discurso sobre os
efeitos terapêuticos da quinoa. Faz um esforço danado pra não dormir durante a
conversa.
Lamenta a ausência da Marilena Chauí.
Liga o toca-discos e coloca o primeiro álbum do grupo
Tarancón. Em vinil.
Vai até a cozinha pra pegar mais gelo e sente um cheiro
forte de baseado. Dá um pega só pra não ficar chato. Somente um trago.
Quando se aproxima a meia-noite, reúne todos à mesa central
da sala. Entram os garçons contratados, que servem pratos encomendados do Saj.
Cita versos de um poema hindu que fala sobre prosperidade.
Explica resumidamente o mjadra, prato típico árabe à base de
lentilhas.
Durante a contagem regressiva, abre uma garrafa de champagne Taittinger Brut
Reserve branco que trouxe de Paris.
Pede para a brigada servir um sorbet de limão siciliano e um
licor de sobremesa.
Vai até a vitrola e coloca Araçá Azul, de Caetano.
Despede-se dos primeiros convidados que começam a se retirar.
Vai até a área de serviço e pega um balde com pano para
limpar o vômito na sala de alguém que excedeu nas bebidas.
Chama um Uber para a amiga fã de quinoa.
RÉVEILLON COM BOLSONARO
Churrasco na área coletiva de um condomínio fechado.
Festança para mais de 100 convidados: parentes, amigos,
parentes dos parentes, apoiadores políticos e todo o pelotão do 23º Batalhão Militar
de Petrópolis.
Entrada pelo condomínio mediante identificação e revista dos
pertences.
O futuro presidente recebe os convidados vestindo uma
bermuda preta e a camisa alviverde do Ademir da Guia, de 1974.
Bate continência para o segurança do condomínio.
De brincadeira, faz o gesto de uma facada nas costas do
churrasqueiro, numa alusão ao ataque que sofreu durante a campanha.
Tira selfies com alguns convidados, à frente da
churrasqueira e da cabeça de boi pendurada na parede que orna o local.
À medida que as carnes vão sendo servidas, faz tudo quanto é
piadinha possível de duplo sentido em relação à gastronomia da ocasião:
linguiça, picanha, maminha, e por aí vai. “Vou enfiar meu espeto no seu lombo!”
é sua frase mais singela que dirige a um correligionário presente.
Ri de suas próprias piadas.
Bota pra tocar o CD do Negritude Júnior em um aparelho
portátil.
Diz se sentir injustiçado em relação ao fato de ter sido
acusado de racista durante sua campanha. “Eu até ouço música de preto!”.
O CD começa a pular. Fica com raiva e bota a culpa no filho
pelo estrago.
Troca por um CD do Agnaldo Rayol.
Dá um tapão na bunda de uma amiga de sua esposa que serve
alguns convidados.
Faz cara feia quando um dos garçons lhe serve salada e
maionese. Ao recusar, diz: “Maionese é coisa de baitola, tá OK?”.
Joga a gordura da picanha para a tropa de pitbulls espalhada
pelo terreno. Faz sinal de joinha.
Minutos antes da contagem regressiva, reúne os convidados à
mesa e chama um padre contratado para celebrar a ocasião com algumas orações.
Coloca a mão no peito, olha pra cima e chora quando o padre
recita o versículo 35 dos Salmos em sua prece.
Ordena aos garçons servir as dúzias de garrafas do espumante
La Chamiza Mendoza Brut, compradas no Carrefour.
Faz o gesto air gun de metralhadora a cada rolha de plástico
que estoura.
Faz um vídeo pelo WhatsApp e manda uma mensagem de feliz ano
novo pelo Twitter.
Acompanha até o carro os primeiros convidados que começam a
se retirar. Pisa num cocô de cachorro e bota a culpa no outro filho por ser tão
relapso com os animais.
Volta para a festa e, num gesto peculiar de delicadeza, pede
pra sua esposa Michelle: “Amoreco, traz logo a sobremesa que o pessoal já tá
querendo ir embora, pô!”.
Encerra o momento único com uma célebre frase: “É pavê ou é
pacumê?”.
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