quarta-feira, 16 de abril de 2008

Apenas Uma Vez

Não é freqüente a migração da música para o cinema, ainda mais quando bem-sucedida. O irlandês John Carney, diretor estreante desta produção de baixo orçamento, já vinha alimentando sua paixão pela Sétima Arte desde o tempo em que era baixista da banda Frames. Seu olhar atesta essa mistura de paixão, vontade e vocação. Carney respeita os espaços dos personagens, assim como as notas em uma partitura, cada uma em seu lugar, sem se atropelarem. Vencedor do Oscar 2008 de Melhor Canção Original, tinha tudo pra beirar a pieguice. Tinha tudo pra se calcar na música como muleta e deixar a trama para o pano de fundo. Não é o que acontece. Há vida nos personagens. Parecem estar à procura de suas "almas-gêmeas" (isso é o que a distribuidora quer vender), mas na verdade estão à procura de si mesmos. A música principal, melancólica na medida certa, dá o tom suficientemente angustiado sem soar dor-de-corno. Lembra algo como Coldplay, Travis, The Fray, mas ainda assim tem respiração própria. Once é econômico nos gestos e na mise-en-scéne, sem abusar de signos desnecessários. E é nessa concisão/precisão que está a riqueza deste trabalho. Um filme que não precisa tagarelar para dizer muita coisa.

4 lentilhas

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