quarta-feira, 23 de abril de 2008

Se beber, não escreva

Para a infelicidade do sensacionalismo, terminou em água - ou melhor, em vodca - a história do romance entre o presidente russo e a campeã de ginástica olímpica. Tudo não passou de uma boataria criada por jornalistas bêbados que não estavam encontrando nos fatos reais sua inspiração para preencher as páginas brancas de seus tablóides. Tentaram copiar o bem-sucedido modelo francês, nesse sentido, mas aí o leste europeu ficou pra trás. A realidade é mais bela e mais autêntica. Inventar fatos e distorcer verdades ferem a ética da profissão, mas é fato corriqueiro do dia-a-dia jornalístico uma mexida aqui e outra ali. No caso brasileiro, em que a sobriedade profissional é algo questionável em parte de sua estrutura, o papel da imprensa igualmente resvala entre o termômetro de uma sociedade e a maquiagem dela. Estampar as barbaridades do Congresso, como o auto-aumento salarial, foi um trunfo desta categoria. Todavia, antecipar julgamentos (vide o recente caso da menina defenestrada Isabella) e esgotar suas possibilidades de manter um nível ético aceitável na divulgação dos fatos e das suas conclusões é repulsivo. Esgotar até a medula as notícias da época da barbárie, as atrocidades criminalísticas, pode encobrir outras tantas manchetes de suposta relevância. Qual Brasil estão querendo mostrar? Qual Brasil o povo quer ver? Será que, antes do ingresso na profissão-repórter, todo aspirante deveria assinar uma cartilha com os dizeres "Escreva com responsabilidade", "Apele com moderação"?

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