quarta-feira, 23 de abril de 2008

O dia em que São Paulo tremeu

Abençoado por Deus, o baixo ventre deste país tropical cedeu às pressões arqueológicas do mal de Parkinson divino. Seus 5,2 pontos na escala Richter assustaram a parte Sudeste desenvolvida deste pequeno continente. Se a classe média paulistana já pôde outrora ficar assustada com as crateras do Metrô e o desabamento de parte do Fura-Fila, agora nem dá mais pra saber o que é sólido e o que é areia na Terra da Garoa. Lá se vão por água abaixo as piadas que versam ironicamente sobre o fato de que o Todo-Poderoso jamais nos rogaria a praga dos terremotos, maremotos, vulcões, gafanhotos e quetais. Nem mais a nossa Avenida Paulista, palco das manifestações estudantis, da Parada Gay e do quebra-quebra dos torcedores, escapou ilesa dessa flatulência metafísica. Os porta-vozes do Terceiro Mundo, aqueles que são pagos para fazer papel de palhaço, certamente irão dizer que esse abalo sociológico é fruto do desenvolvimento. Seis milhões de carros circulando na capital paulista só podem dar nesse pequeno frêmito estrutural. É a nossa maneira camaleônica e atrapalhada de querer se nivelar ao Japão. Só espero que, a partir dessa sucessão de fatos trágicos, a gente possa reverter também o final da anedota maldosa.

Nenhum comentário: