segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Mc Zero

Não me canso de falar mal do Mc Donald’s. Nem sei por que continuo indo a tal lanchonete, mas sei por que continuo falando mal dela. Que a comida tem gosto de plástico e o padrão de atendimento deixa bastante a desejar, isso todo mundo tá calvo de saber. Já se foi o tempo em que uma rede de fast food servia food na velocidade fast. Não sei se o negócio é comigo, se há alguma estampa na minha testa, mas em praticamente 90% das vezes em que vou lá há algum tipo de problema com meu pedido. Ou eu peço algum sanduíche que não consta em estoque e o prazo para preparo é mais demorado (sou obrigado a adivinhar qual lanche é a bola da vez), ou o atendente erra meu pedido ou esquece algum item. Não sei se acontece com todo mundo, mas assim que me perguntam aquela decorada frase “qual seu pedido?” e eu vou responder, a pessoa olha pro lado, dá atenção pro ajudante, muda de assunto, volta a atender a pessoa que estava antes de mim na fila, repõe o estoque de canudos, sei lá. Claro que, com essa “atenção”, só pode dar coisa errada. Ainda mais quando peço pra trocar o acompanhamento ou faço alguma solicitação fora do script. Amigos leitores, conselho de heavy user: evitem mudar alguma coisa do cardápio, como por exemplo mudar o acompanhamento para saladinha, refri sem gelo, hambúrguer sem picles, sanduba sem maionese. Pode ter certeza de que sua experiência será bem sofrida. Já é muito difícil para os pouca-prática seguir aqueles risquinhos das comandas de papel. Mas o meu dessabor dessa vez não foi com a gastronomia, mas com a Álgebra. Na sexta-feira passada pedi no quiosque de sorvete do centro de Alphaville um produto que, com adicionais e tudo, custa R$ 6,25. Quis ajudar, quis mostrar meu lado samaritano. Dei à prestativa porém sonsa atendente uma nota de R$ 10 mais uma moeda de R$ 0,25. Se eu lascasse da carteira uma nota de R$ 50, capaz de sair tudo certo. Mas não, comigo as coisas têm de ser bem diferentes. Havia ali uma cara de interrogação típica de estudante despreparado para a prova de vestibular. Eu não estava colocando a pessoa contra a parede, exigindo dela o raciocínio rápido para extrair raiz quadrada, nem a lógica metafísica da Teoria do Caos. Sim, ali havia um certo caos, mas o motivo era outro. Após três ou quatro tentativas e erro, quis pedir de volta o dinheiro e separar as migalhas do valor exato, numa mistura de se prontificar para a agilidade do serviço ou demonstração de irritação com o baixo nível intelectual da funcionária. Num país em que se exige ginásio completo para vigias de empresa de segurança, é improvável que a maior multinacional de pronto-a-comer feche os olhos para este requisito classificatório. E não foi a primeira nem a segunda vez em que isso ocorreu comigo. Já teve um caso em que eu tive de rabiscar com caneta uma simplíssima equação matemática no verso de um papel-bandeja, pois a atendente nessa ocasião teimava em não me dar o troco correto. Essa falta de sabedoria é maior do que um problema específico do Mc Donald’s. Num país em que se idolatram jogadores de futebol e pagodeiros como símbolos do sucesso profissional, é óbvio que está se dando cada vez menos importância à cultura e ao exercício do saber. Infelizmente, a tendência é só piorar. O vexame no quiosque foi revoltante, mas é a prova de uma realidade triste. Tá na cara que não é interesse de governo nenhum investir em Educação. Uma sociedade culturalmente mais rica tem maiores condições de derrubar o poder, o que não é bom para quem domina estas capitanias. Enquanto isso, essa camada da população que ironicamente faz bico na lanchonete pra pagar os estudos alimenta nossas bocas com junk food mal-servido e alimenta as aviltantes estatísticas que colocam o Brasil entre os piores do mundo nos critérios básicos de desenvolvimento.

Nenhum comentário: