segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O Renascimento de Paris

Talvez você não se lembre, mas a distribuidora Paris Filmes já foi relativamente grande aqui no Brasil. Isso nos anos 80. Dominava os lançamentos de filmes-B e tinha circuito exibidor próprio, concentrado principalmente em shoppings. Ficou fora de atividade no começo dos anos 90 e renasceu das cinzas há cerca de quatro anos, com novas propostas, nova presidência e uma nova gestão comercial. Hoje a distribuidora mantém seu foco em filmes de ação ou terror, como Rogue, Os Estranhos, Quebrando Regras, O Nevoeiro e por aí vai. Normalmente lança seus filmes na rabeira dos concorrentes. Não dá pra se dizer que tem a preferência dos exibidores. Seu discutível acervo e algumas de suas apostas equivocadas levam a crer que a Paris é daquelas que disputam um espacinho nos cinemas sem o mesmo poder de fogo de uma Fox, Warner ou Paramount. Às vezes, comete alguns acertos de relativo sucesso, como O Perfume, O Clã das Adagas Voadoras. Foi a primeira a acreditar na franquia Jogos Mortais, que hoje mudou de mãos e tá na Buena Vista. A Cidade-Luz do circuito cinematográfico começou 2008 de forma apática, mas no segundo semestre despejou uma série de filmes acumulados. A maioria deles, voltada para o público cinéfilo da região da Paulista, como Fay Grim, Caótica Ana, Na Mira do Chefe, Eu Sou Juani. Nesta semana de feriados, a quantidade de lançamentos foi bastante tímida diante da média: somente dois filmes. E ambos da tal distribuidora. Gomorra é um peso-pesado sobre a máfia italiana e ocupa todos os cinemas com uma programação mais diversificada. Bastante recomendado. Mas a grande coqueluche é Crepúsculo, creio eu o maior lançamento de toda a história da Paris. Devido ao estrondoso sucesso lá fora, ele veio aqui com força toda, ocupando até três salas em alguns shoppings. Um lançamento comparável, em cópias, a Harry Potter, Batman, Homem Aranha. O filme em si não tem nada demais. Começa insosso e melhora um pouco no final. Mas existe uma explicação para o fenômeno. É também uma adaptação de best-seller publicado em vários livros, como uma saga. Tem apelo voltado especificamente ao jovem, o que mostra quem realmente vai ao cinema. Mas o principal é perceber a releitura shakesperiana da obra vampírica, o que comprova que o célebre escritor inglês não ficou obsoleto. Crepúsculo traz uma roupagem emo a uma família de dráculas vegan, algo assim. Diante de hábitos seculares gastronomicamente corretos, há um amor impossível. Lendo assim parece brega demais, mas o filme trata disso sim senhor. O efêmero e o imortal travando um dilema de escolhas e os Montecchio e Capuleto pra atrapalhar esta decisão. Se você achava que Johnny Depp estava pálido demais pra fazer o papel de Edward Mãos de Tesoura, prepare-se pra quantidade de talco esparramado na pele dos licantropos hematófagos.

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