terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Mobilização, invasão ou acomodação?

Existem propostas que chacoalham o mercado. E existem as overpromises. Em todas as vezes que vou ao circuito Arteplex, aparece antes do filme um comercial, na minha modesta opinião, um tanto quanto pretensioso. A empresa MovieMobz parte de uma premissa verdadeira para vender seu peixe: mobilização é poder. Concordo plenamente. Essa ótima frase nos faz lembrar das revoluções, dos grandes movimentos culturais e dos palanques de grandes concentrações de pessoas. Da frase em diante, as imagens me decepcionam cada vez mais. Sem deixar muito claro (de propósito, talvez) que tipo de mobilização a empresa prega e qual poder é obtido com ela, sobe uma seqüência de imagens de filmes como Cheiro do Ralo, O Escafandro e a Borboleta, Juno, entre outros. É o poder de mobilizar os cinéfilos? Mobilizar a programação de alguns circuitos? A proposta parece interessante: dar ao espectador-internauta a possibilidade de escolher um filme que será exibido em um horário exclusivo, substituindo o filme em cartaz. Em primeiro lugar, não se trata exatamente de uma liberdade de escolha propriamente dita. Existe no site uma quantidade relativamente limitada de filmes à disposição. E, pelo que vejo, nenhuma raridade ou filme que tenha ficado pouco tempo em circuito. Nada que traga aquela aura cineclubista. A maioria, filmes que não foram sucessos de bilheteria mas conseguiram ser apreciados pelo público assíduo por terem ficado um bom tempo em cartaz. Muitos deles, já nas prateleiras das locadoras ou em exibição na TV paga. Não vejo essa iniciativa como algo de fato mobilizador. Pra mim, isso nada mais é do que um pay-per-view em telona. E, por tudo o que já assisti até hoje via MovieMobz, suponho que seja também em exibição digital. Ou seja, essa “revolução cultural” nada mais é do que alugar um DVD e ver com os amigos em sala de cinema. E cada vez menos com cara de mobilização das massas intelectuais e cada vez mais com cara de ação entre amigos. Prova dessa exibição amistosa é o documentário do show Queen + Paul Rogers, prometido para o dia 18 próximo, à noite, em 33 salas de 16 cidades. Shine a Light, documentário sobre um show fechado dos Rolling Stones (fracasso de bilheteria, abaixo das expectativas da distribuidora, segundo a própria), ainda se justificava em telona por ter sido dirigido por Scorcese. O show do U2 não tinha ninguém de ponta por trás das câmeras, mas pelo menos trouxe o aparato tecnológico do 3D, algo exclusivo da sala grande. Mas este aqui não tem razão para ser exibido de tal forma. Claro que um show visto assim fica mais legal e nas dimensões mais próximas do trabalho ao vivo da banda. Mas aquilo que a MovieMobz está chamando de revolução corre o risco de corromper um espaço que é próprio do cinema. DVD de show de rock pode rolar em bares, danceterias, galpões, no Jockey Club, no raio que o parta. E escolher musiquinha apertando botão é coisa de jukebox. Mas ocupar o espaço dedicado à Sétima Arte é invasão de domicílio. Ainda mais num conglomerado que se aperta diante de tantos lançamentos acumulados.

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