segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Messias moderno

São poucas as lojas em São Paulo que ainda vendem coisas do passado. A não ser aquelas especializadas em relíquias. Mas é difícil vermos gravador e toca-fitas cassete à venda, bem como máquinas de datilografar, fitas VHS, discos usados de vinil, aparelhos de fax e quetais. Estes artigos é que costumam dar a cara da loja em que estão à venda: ou é um brechó que traz de volta o clima vintage, ou é um sebo que amontoa quinquilharias. Do universo da segunda opção, um dos mais conhecidos é o Sebo do Messias, que ganhou notoriedade por seu vasto acervo de livros jurídicos, pela política de baixos preços e por adquirir lotes grandes de quem está se desfazendo de seus antiquados pertences. Mas, para minha moderada estupefação, constatei que o relicário agora também faz comércio online. No começo, imaginei se tratar apenas de uma extensão do canal de divulgação: a web serve também de vitrine para quem não conhece ou não costuma ir à loja física. Mas não. Ao tentar fazer uma compra na própria loja, com prévia consulta ao site, fui informado de que alguns produtos são vendidos exclusivamente online. Uma novidade para um estabelecimento que costuma fazer pilhas de material gasto e empoeirado, sem medo de assumir seu aspecto ultrapassado e fazendo jus à alcunha pejorativa de sebo. Insisti na compra e acessei novamente o site. E olha que a arcaica loja não fez feio. A versão brasileira da Amazon.com possui um mecanismo eficiente de compras virtuais. Entrei na página na sexta-feira à noite e fui buscar os presentes que dei a mim mesmo no sábado de manhã. Tudo transcorreu normalmente. Pedido em ordem, produtos impecáveis. E nada de balconista subir as escadinhas para procurar mercadoria perdida na loja. Para quem é do tempo do telex, um avanço. E para quem costuma fazer essas compras vasculhando prateleiras de ferro entortado, uma saborosa e messiânica surpresa.

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