quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Espírito camaleônico

Parece que hoje em dia uma boa estratégia de marketing é aquela que procura falar com todo tipo de público. Ou utiliza códigos universais de entendimento, sei lá. Falam tanto em segmentação, mas eu cada vez duvido mais da eficácia deste tipo de abordagem. No âmbito cinematográfico, é comum vermos filmes étnicos, filmes equivocadamente chamados “de arte” ou aqueles famosos filmes para adolescentes, com humor e linguagem próprios. Por outro lado, algumas animações ou filmes considerados infantis vêm cada vez mais se apropriando de piadas um pouco mais evoluídos para a compreensão dos bebês de colo, quiçá para não fazer os pais dormirem durante a sessão. Se a tendência é o específico e a comunicação dirigida aos nichos, ou se é a retomada à massificação da mensagem e a globalização das aldeias, não tenho ainda uma opinião formada. E o que me ajudou a confundir ainda mais minhas convicções foi ver no domingo dois trailers diferentes do filme The Spirit, previsto para estrear em janeiro. Está claro ali que a proposta é atirar para todos os lados, dançar conforme a valsa noturna. Um deles, o melhor na minha modesta opinião, traz aquilo que chamam de “fidelidade” ao universo dos HQs. Os nomes Frank Miller e Will Eisner (Avenida Dropsie) aparecem em primeiro lugar, seguidos das referências Sin City e 300. Estamos então diante dos gibis em movimento e alta definição. O branco-e-preto em alto contraste, o detalhe do vermelho, a presença da chuva e o cenário de uma metrópole e suas edificações homogêneas. Parece um filme de papel, um origami chapado na tela, um apanhado de imagens sombrias moldadas em nanquim. Já o segundo trailer faz outro tipo de apelo, talvez mais voltado ao público teenager. Esboços gráficos beirando o minimalismo cedem lugar a personagens de carne e osso, levemente dourados por uma cor em tom de sépia com um pouquinho de rubor em determinadas nuances. Em cada cena do trailer, uma mulher sedutora. Neste aperitivo, que me agradou menos do que o anterior, começam a dar nomes aos bois. Figuras hollywoodianas como Scarlett Johansson, Eva Mendes ou Samuel L. Jackson parecem criaturas de circo procurando um lugar neste espaço caoticamente urbano de Eisner. Heróicos e ao mesmo tempo sorumbáticos, estes césares das tribos noturnas são o refresco apimentado para a estréia vindoura. Ainda prefiro o poder sugestivo dos contornos do trailer anterior. Vamos ver o que essa mistura pálida graficamente taoísta com gotículas de sangue tem a nos dizer.

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