quarta-feira, 16 de julho de 2008

Greve grave

A Telesp era uma empresa confiável. Telefone fixo custava uma fortuna, tinha fila de espera que durava anos, tinha ágio no mercado negro, mas seus serviços eram sérios. A Varig era uma empresa confiável. Seus projéteis aéreos eram um pouco obsoletos, mas pelo menos naquela época avião caía bem menos e vôo quase não atrasava. O Metrô era confiável. Seguro, pontual e sem crateras. Bom, o que dizer então dos Correios? Uma das empresas mais sólidas e respeitadas do País, em inúmeras pesquisas de opinião. Imagem residual das melhores. Tanto é que até existia o serviço de resposta de cartas endereçadas ao Papai Noel. O carteiro do bairro era quase um vizinho nosso, a gente o recebia chamando pelo seu nome. Figura tão presente no nosso dia-a-dia quanto o açougueiro, o alfaiate, o dono da padaria, a vendedora porta-a-porta de Yakult. Não sou contra a privatização de empresas deficitárias, paquidérmicas e cabides de empregos. Mas, desde que se misturou capital privado a patrimônio estatal a um qualquer-coisa de sei-lá-o-quê que não pertence a ninguém, a bagunça ficou sacramentada. Não bastassem os professores, os agentes fiscais e os motoristas de ônibus, agora a gente tem que conviver com a figura do carteiro de braços cruzados pelo menos duas vezes por ano. Virou rotina, triste e lamentável rotina. São mais de 100 milhões de missivas acumuladas nos depósitos e nas centrais de coleta. Entrar em site que nos cobra alguma coisa e ter de imprimir algum tipo de boleto virtual virou uma via crucis. Isso sem falar nos vírus que andaram surgindo na Internet por conta desse caos. Entrega de encomendas, só se você tiver muita sorte. A Justiça brasileira ofereceu uma contraproposta relativamente razoável, mas o sindicato da categoria é bastante forte neste País e rejeitou a oferta. Hoje, nos deparamos diante de uma discórdia sobre uma questão pontual que diz respeito a reposições salariais e ajustes de benefícios. A longo prazo, se os simpáticos amarelinhos das calçadas continuarem irredutíveis, criarão e reforçarão uma denegrida imagem que ninguém de bom senso quer carregar. Se continuar assim, o carteiro bonzinho, pontual e que sabe de cor e salteado o número da nossa conta bancária será tão odiado quanto hoje são os motorneiros e motoqueiros. E você sabe como é difícil reverter o processo de queda de popularidade no país das paralisações.

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